domingo, 15 de maio de 2011

Para tudo há sempre um tempo...


Este começo de ano foi para as comunidades de Ipaporanga e Nova Russas um tempo intenso e forte, de novidades. Partilhamos em nosso primeiro encontro das duas comunidades como cada uma vivenciou, experimentou e celebrou este tempo...
Irmãs e Jovens Vocacionadas de Ipaporanga e Nova Russas

Um tempo de expectativa e de espera
Foi o tempo de escolher, negociar e equipar casa, tempo de prepará-la, de ajeitar os quartos para acolher mais moradoras. E mais importante do que isto, preparar a casa do coração para acolher quem estava chegando!
Tempo de ampliar a tenda, deixá-la aconchegante, acolhedora, imaginando cada uma que iria integrar a comunidade.
Para quem estava chegando, tempo de abertura, de imaginar como será a vida em novas terras, a nova realidade; tempo de abrir-se para a novidade do Reino e da missão.

Tempo de mudança
Um momento de muitas perguntas povoando a mente e o coração: como chegarão? Será que se adaptarão? Como se sentirão e como nos sentiremos com sua chegada?
Tempo de agendar viagens, caronas, horários, itinerários favoráveis, quem as buscará, onde buscará, de que jeito...
Tempo de preparar uma comidinha gostosa para matar a fome de quem chega, depois de longas viagens, nem que seja a meia noite!
Tempo de mudança física, geográfica e também de mudança interior, de reorganização, de revisão. Tempo de transformar e transformar-se, de sonhar, de projetar.

Tempo de acolhida
            E assim foram chegando, a começar pelas jovens vocacionadas: Iana e Marineide; e em seguida as Irmãs, Cristiane e Adelaide.
             Em cada comunidade os preparativos, os cuidados para acolher a cada uma com ternura e simplicidade, com o espírito da Fraternidade Esperança.
            Tempo de alegrar-se com as novas composições, com a nova organização como uma orquestra que busca alcançar o melhor arranjo para a execução da sua mais bela canção: a vida, a vida comunitária!
           
Tempo de integração e inculturação
            Tempo de aproximação da comunidade do povo, com toda a sua riqueza e singularidade. Tempo de conhecer e dar-se a conhecer, de reconhecer o que temos em comum e o que nos diferencia. Tempo de provar novos temperos, cheiros, sabores... de experimentar o calor do sol e do coração. 
saboreando um milho assado na festa da colheita, Nova Russas

Tempo de partilhar uma tapioca regada com chimarrão!
Tempo de ajeitar os “trem”, de “entrar no embalo” e sentir as novas “sensações”!
Tempo de sentir saudade da mãe e do pai e se dispor a construir outra família.
Tempo de sentir os clamores, os desafios, as interpelações....
Tempo de perceber que o povo está faminto por presença gratuita, por visitas.
matando a saudade do chimarrão

Tempo de conviver
Tempo de nos contemplarmos mutuamente, olharmos para nós e umas para as outras, percebendo nossos dons, potenciais, talentos e também nossos limites.
Tempo de rezarmos juntas, de celebrar a vida, as pequenas e preciosas conquistas do dia-a-dia.
Tempo de sabermos as histórias de vida, as trajetórias e as andanças de cada uma...
Partilha da Páscoa

Tempo de cuidado
É também tempo de cuidarmos de nós mesmas, de nossa saúde, alimentação, repouso, adaptação; tempo de cuidarmos e cultivarmos a unidade, a comum-unidade; tempo de cuidar da vida de toda criação, que nos cerca e geme em dores de parto...
            É tempo de cuidar das relações que foram construídas e cultivadas e que deixamos longe, tempo de cuidar das novas relações que nascem a cada encontro com o povo.

Tempo de sonhar
            Tempo de alimentar sonhos de vida, de dignidade e justiça. De sonhar com as trilhas que percorreremos neste ano.
            Tempo de sermos visionárias e gestar projetos pessoais e comunitários comprometidas com o Reino de Deus, que quer acontecer, aqui e agora, através de nós.


sexta-feira, 13 de maio de 2011

A mulher toda santa e imaculada

Ir. Lina Boff


Na linhagem das matriarcas irrompe a figura de uma mulher dentro do plano divino que foi revelado em Cristo Jesus: Deus reserva um lugar singular a esta mulher, aquela que foi a Mãe de Jesus, o Filho do Pai e o Salvador do mundo. O Apóstolo afirma que Deus nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados aos seus olhos (cf. Ef 1,4) pela graça salvadora trazida por seu Filho que doou sua vida por todos. Todos nós portanto, somos chamados a sermos santos e imaculados, com a nossa missão a partir das palavras que o Anjo lhe diz: Alegra-te, cheia de graça. o Senhor está contigo! (Lc 1,28). E com a exclamação de Isabel que a proclama: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! (Lc 1,42),



Maria é a mulher cheia de graça



Em primeiro lugar esta expressão significa para Maria estar pervadida pela benevolência do amor de Deus que adorna sua vida como dom para a humanidade. Em segundo lugar significa estar toda coberta, envolvida, cumulada da graça divina. Pela sua fé e pela sua disponibilidade a Deus Maria foi se tornando progressivamente cheia da graça do Senhor a ponto de abandonar-se conscientemente e com toda a liberdade de seu ser, ao plano salvífico que o Pai tinha em mente realizar. O plano do Pai tem uma finalidade bem determinada: a de reconciliar a humanidade com Ele e tornar nova toda a criação plasmada com tanto carinho por Ele desde toda a eternidade.

Nesse contexto Maria é cheia da graça divina porque se deixou encher de Deus e de seu plano. Como Comunidade de Amor esse Deus que se relaciona com o Filho e o Espírito Santo, e revela-se a nós nas suas distintas atribuições que lhe damos de Criador, de Redentor e de Santificador das nossas vidas. A todos os povos revela-se como Único Deus, no respeito de suas crenças, tradições, religião e culturas.

A Maria Ele se revelou enchendo-a de sua graça porque a preservou do pecado original. Com Maria inaugura-se a Nova Criação pelo Filho de Deus, Jesus Cristo que é o filho de Maria por obra do Espírito Santo.



Maria está com o Senhor

Estar com o Senhor é viver da sua comunhão. Esta comunhão se dá na Comunidade divina onde o Pai, o Filho e o Espírito Santo formam a verdadeira Comunidade que se relaciona para dentro e para fora, isto é, a comunhão que se cria para dentro consiste numa relação de amor, de solidariedade e de doação total de uma Pessoa para com a outra. Tal relação que se dá para dentro, reflete-se para fora através da missão que cada Pessoa da Comunidade divina realiza junto à humanidade.

Maria participa desta comunhão das divinas Pessoas. Primeiramente como mulher que abre seu corpo à ação de Deus e concebe antes pela fé que pela função biológica do seu ser humano. Maria participa da comunhão trinitária como mãe porque oferece seu filho ao mundo e o doa a toda a humanidade. Como esposa Maria participa da comunhão trinitária porque se abre à liberdade do Pai que lhe pede inserção dela em seu projeto de salvação, dentro do ritmo normal da vida humana por Ele plasmada e organizada com sua lei de amor, sem interromper o curso normal do nascimento humano de seu Filho. A partir desse movimento de comunhão trinitária Maria vive sua condição de mulher como todas, como criatura, pois depende de Deus em tudo. Maria vive sua condição de mãe como a mulher que acolheu em si mesma o Verbo de Deus Pai e O doa ao mundo para a salvação de todos. Maria vive sua condição de esposa como mulher que compartilha, assume e vive um projeto, em princípio, comum ao seu esposo José; vive-o na confiança e na certeza de que a abertura ao NOVO que desponta n´ela, tem um conteúdo que deve ser penetrado e vivido na fé que confessa em mistério. Por estar com o Senhor, Maria alegra-se.



Maria é bendita



Isabel é a mulher que reconhece ser Maria a bendita do Senhor porque traz em seu seio o fruto bendito de Deus. Felicita-a pelo dom que ela recebeu de Deus, pelo estado de bem-aventurança em que se encontra por ter aderido ao plano do Pai. Com que belas palavras Isabel fala bem de Maria, com que voz expressiva e firme a proclama aquela que é bem falada, bem dita, bem comentada por trazer a alegria de um futuro próximo que há milênios o povo de Israel aguarda, anseia, espera. Isabel bendiz Maria com estas palavras e com esta proclamação:



Bendita és tu entre as mulheres,

Bendito é o fruto de teu ventre!

Bendita a Mãe do meu Senhor que me visita!

Bendita a saudação que chegou aos meus ouvidos,

Bendita a criança que estremeceu em meu ventre!

Feliz és tu que acreditaste no que o Senhor te disse,

porque será cumprido! (cf. Lc 1, 41-45).





Maria traz o fruto bendito



Em todo o Novo Testamento somente Lucas usa a palavra fruto (karpós) no sentido de fruto do ventre, fruto como filho, descendência. Quando ouviu a saudação de Maria, com um grande grito Isabel exclamou quando ouviu a saudação de Maria: (...) bendito é o fruto de teu ventre! (Lc 1,42).O que Isabel fala Lucas parece confirmar no primeiro discurso de Pedro depois da ressurreição, dirigindo-se a todos os israelitas que o escutavam e que os trata, primeiro como “homens da Judéia”, depois como “homens de Israel” e finalmente como “irmãos”.

Pedro fala a respeito do patriarca Daví que como profeta havia assegurado com juramento, que um descendente seu tomaria assento em seu trono, (At 2,30), referindo-se a Jesus que ressuscitara dos mortos. Maria traz esse Fruto bendito.



Maria e as mulheres de hoje



Maria propõe às mulheres de hoje uma mudança profunda que transforme o presente, como se deu a transformação de Maria de Nazaré diante da proposta divina. Esta é a promessa de um futuro que traz consigo a urgência de se criar um tempo presente que seja novo na sua natureza, isto é, tempo no qual o próprio Deus é proclamado Bendito!

Com as palavras do Magníficat Maria articula o dom divino e comunica-o ao mundo bendizendo a Deus, Fonte de vida e de todo bem. Agradece e bendiz ao seu Senhor proclamando:



Bendito o Senhor que minha alma engrandece,

Bendito o Salvador no qual meu espírito exulta!

Bendita a força libertadora de seu braço,

Bendita a dispersão dos orgulhosos, dos poderosos!

Bendita a exaltação dos humildes, dos famintos!

Bendito o socorro de Deus a Israel,

Bendita sua memória em favor de sua descendência!

Felizes as gerações que me reconhecerão

bem-aventurada! (cf. Lc 1, 46-55).



As “Marias” de hoje bendizem o Senhor porque vivem sua fé como chamado no meio do povo e com ele presidem o serviço que faz da vida toda um projeto de construção do Reino, através de sua prática anunciadora e de sua gratuidade que cria sempre novos espaços de evangelização.

As “Marias” de hoje exultam no Salvador do povo porque advogam a causa dos pequenos e excluídos; tutelam suas tradições que mantêm vivas a fé e a inspiração em Maria como companheira de estrada.

As “Marias” de hoje encontram Maria na juventude que clama por novos projetos de vida e por cidadania; ela se encontra presente nos movimentos sociais que buscam terra, moradia e direito de viver com dignidade sua vida.

As “Marias” de hoje ensinam que Maria não está só nos altares, nos andores e nas procissões, mas mostram que ela é uma figura que, levada para junto do dia-a-dia de seu povo, dá forças para abraçar a causa da vida.

Por tudo isso Maria liberta e ao mesmo tempo socorre. Maria é uma das expressões mais fortes da simbólica popular e a Mulher que mais incide no sentimento da subjetividade humana e no seu modo de ser mãe e rainha, não como todas as rainhas de hoje e de todos os tempos, as quais pouco conhecemos, mas pelo seu jeito de exercer a realeza do serviço que presta ao pobre e ao pequenino.


Este texto utilizamos em um momento de deserto neste mês mariano!
Esperamos que gostem!

Abraços!

Ir. Clara,fe. 

terça-feira, 3 de maio de 2011

Beatificação Papa João Paulo II



Papa João Paulo II foi beatificado

Os 1,5 milhão de fiéis gritavam em frente ao Vaticano, em Roma, “santo subito” (“santo já”, em italiano) quando às 10h37 (5h37h em Brasília) deste domingo passado, o papa Bento XVI declarou que “o venerável servo de Deus João Paulo II, papa, de agora em diante seja chamado beato”.
O polonês Karol Wojtyla, morto aos 84 anos em 2005, foi beatificado diante de uma multidão que orava silenciosamente em frente ao Vaticano.
Em pronunciamento, o atual papa Bento XVI foi aplaudido quando disse: “Já naquele dia [do funeral] sentíamos pairar o perfume da sua santidade, tendo o povo de Deus manifestado de muitas maneiras a sua veneração por ele. Por isso, quis que a sua causa de beatificação pudesse, no devido respeito pelas normas da igreja, prosseguir com discreta celeridade. E o dia esperado chegou! Chegou depressa, porque assim aprouve ao Senhor: João Paulo 2º é beato!”
Em seu discurso ele também ressaltou a fé do antecessor pela Virgem Maria e seu papel em encaminhar as modernizações do Concílio Vaticano 2º (1962-65). 



João Paulo II venceu o protocolo, as conveniências e tudo o mais, para exercer sua missão de anunciar o Evangelho da paz, fruto da justiça. Teve coragem! Aliás, uma de suas características sempre foi a fé com coragem, que fez dele um profeta do conturbado século XX.
Hoje parece fácil clamar pela justiça e o direito em nome da dignidade humana, maltratada por uma sociedade rica, porém, injusta. Mas "nos anos de chumbo" desse período de repressão não o era. 
Por isso não o esquecemos e a Igreja confirma o dom que Deus lhe deu: a santidade, da qual o mundo sempre teve fome.



Tatiane Paiva